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Sinopse por: Luís Nogueira "Stanley Kubrick deixou a sua marca no planeta, como a de um selo em cera mole. Demiurgo, visionário, génio... os comentadores não se mostram ávaros de hipérboles quando se trata de Kubrick, como se vissem nele um novo pai do Logos, um criador de mundos. Só Orson Welles, num passado recente, beneficiou de uma tal unanimidade no superlativo. Todavia, e paradoxalmente, como se uma certa ênfase esgotasse depressa demais a lisonja, a obra apela ao raciocínio e a crítica dispersa-se muitas vezes num pontilhismo estéril, a medir curtas distâncias, especulando sobre pequenas coisas psicológicas ou sociais, em vez de se interessar pelos caminhos que Kubrick aponta, para que chama a nossa atenção, numa grandeza de que não basta falar, às vezes talvez um pouco ao acaso, mas de que, modestamente, se torna necessário encontrar o equilíbrio.
O cinema de Kubrick, pelo menos de há vinte anos a esta parte, rasga vastos horizontes. É preciso acompanhá-lo e assistir ao funcionamento desses grandes mecanismos em que a vista se perde entre espelhos e labirintos, em perspectivas dignas de um Piranesi. Penetrar nos enigmas que 2001 evoca, nas cavernas, nos astros e no tempo. Reunir os fragmentos do que cada vez mais poderosamente se mostra como um todo. O todo das formas do mundo, dos seus conflitos, das suas articulações, tudo tão velho como o velho Heraclito e sempre jovem como o movimento perpétuo. Tudo ligado à mesma roda". Estas palavras, retiradas da introdução ao estudo, são suficientes para perceber a importância desta obra e do realizador que constitui o seu objecto.
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