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Sinopse por: João Carlos Correia “O século de Sarte”, sem evitar a alusão quase incontornável à intervenção política de Jean-Paul Sartre apresenta-se, especialmente, como uma “biografia intelectual”, no decurso do qual o autor procede à análise das relações entre a filosofia de Sartre e algumas das formas de penamento que o influenciaram decisivamente. Nessa medida, são de destacar a análise das relações entre o pensamento sartriano e as grandes correntes filosóficas que se reflectem na sua obra, nomeadamente Bergson, Nietzsche, Hegel e, especialmente, a Fenomenologia (designadamente as obras de Husserl, Heidegger e Merleau-Ponty) e o marxismo. Simultaneamente, procede-se a uma revisão de algumas das polémicas filosóficas em que Sartre interveio como actor destacado, designdamente a recepção francesa do pensamento de Heidegger e a controvérsia com o pensamento estruturalista. Ao longo desta análise, aparecem como temas centrais a Subjectividade e a Intersubjectividade, o conceito de Sujeito e a polémica sobre o humanismo, tentando-se ultrapassar o que o autor considera serem alguns equívocos da recepção crítica de Sartre por parte da vaga estruturalista. Nesta medida, uma das surpresas do livro é a afirmação de que o primeiro Sartre não tem como cúmplices ou contemporâneos seus nem Descartes nem Husserl mas sobretudo Claude Lévi-Strauss, Foucault e Althusser, ou sejam os representantes do «pensamento de 68», os quais o atacaram com extrema violência “fazendo da raiva anti-sartriana o sentimento que mais compartilhavam”. (sic). Simultaneamente a esta dimensão filosófica. Bernard-Henry Lévy procura “fazar justiça” a Sartre enquanto escritor e romancista, designadamente através da “Náusea” e de “Os caminhos da Liberdade”. Ao longo das mais de setecentas páginas do livro pressente-se a necessidade sentida pelo autor de proceder a uma espécie de reabilitação de uma figura que ele admite ter sido injustiçada (“justiça para Sartre” é o título de um dos capítulos), afirmado-se que o desaparecimento do contexto político ao qual o nome de Sartre está ireemediavelmente ligado permite a escrita de uma obra que, antes, seria considerada um “saudosimo de mau gosto.” “O século de Sartre” constituiu uma das principais surpresas editorais do ano 2000 em França, ao configurar uma espécie de justificação do desempenho filosófico e político de Sartre durante os cerca de 30 anos em que afirmou como uma espécie de estrela do universo académico francês. A surpresa resultou em grande parte do facto de a obra ser asssinada por Bernard-Henry Lévy, figura de proa da chamada “Nova Filosofia”, celebrizada pelo ambiente de condenação do desempenho político dos “intelectuais de esquerda”, de que Sartre foi, talvez, o principal expoente. Apesar de ter conquistado grande parte da sua celebridade no final dos anos 70 e princípios dos anos 80 graças à assimilação entre o pensamento revolucionário e o totalitarismo, grangeando grande parte da sua notoriedade na solidariedade activa para com os dissidentes do regime soviético e pela crítica a Sartre e a todos os intelectuais que se comprometeream politicamente, silenciando as violações dos direitos humanos levadas a efeito por regimes que se identificaram com aplicação dos «princípios marxistas», Bernard-Henry Lévy parece fazer uma inversão intelectual no seu próprio percurso, ao proceder a uma espécie de reabilitação do percurso filosófico de Jean-Paul Sartre.
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