|
Sinopse por: Graça Gonçalves A partir do excerto que se segue, é possível entender o objectivo do autor para esta reflexão: "Como em tudo na vida, também o cinema tem direito a uma cosmogonia. Não existirá porventura uma narração ou um génesis primordial que enuncie e delimite a origem desta nova linguagem. O que talvez, a seu tempo, tenha existido foi o relato do espanto e da aventura cinematográficos que se exprimiu através das imagens com que os seus inventores, muitas vezes involuntariamente, pareciam descobrir um imprevisto e deslumbrante fogo.
Esta proto-história cinematográfica - ou este embate entre pedras ígneas no fundo de uma gruta escura - só se tornou possível devido à conjugação de vários factores que a precederam, entre eles a própria fotografia, a stroboscopia do princípio de Joseph Plateau
(ou a simulação do movimento, de acordo com as leis da persistência retiniana) e, por fim, a lógica da projecção que advinha da tradição já longínqua e secular da lanterna mágica.
Salientaria, no quadro da descoberta original deste fogo de imagens sucessivas e desmedidamente potenciais, quatro marcos que descrevem, de algum modo, a silhueta da sua cosmogonia. Por outras palavras, proponho que façamos uma breve visita guiada a quatro lugares da infância do cinema, num momento em que este ainda não se havia auto-constituído como linguagem dotada de retórica e códigos próprios. São estes quatro rios do paraíso inicial do cinema - o .deslumbramento face ao real quotidiano., a .redescoberta do efeitismo imediato., as .metamorfoses inevitáveis da iniciação. e, por fim, o que designarei por .mudez narrativa..
|
|