|
Sinopse por: Luís Nogueira Logo no primeiro parágrafo do texto é enunciada a série de questões, profunda e diversa, que atravessa o ensaio: "As imagens do cinema não escapam ao destino habitual das imagens: migram como elas. São copiadas de filme para filme, retomadas, citadas, desfeitas para serem refeitas, reproduzidas, num jogo em que os seus valores de origem não cessam de ser interpelados. Uma invenção feliz e, depois, imitada, pode tornar-se um intolerável cliché; uma ideia banal pode ser enriquecida, quando retomada noutro lugar e de outra forma, pode mesmo ser expatriada (o que é mais raro). Poderia assim imaginar-se uma história do cinema que iria de uma imagem a outra, como se vai da Vénus de Urbino à Olympia; para logo depois se seguir o aflitivo destino dessas grandes imagens tornadas irrisórias e insignificantes. Serão estas migrações todas idênticas? Basta colocar a questão para que, perversamente, ela se divida e cinda, sempre que a resposta ameaça simplificar-se excessivamente. O que faz então migrar as imagens - que força, que lucro antecipado - mas também, como se transplantam, e o que ganham ou perdem nessa operação? E como descrever estas passagens, sem recorrer aos modelos intencionais, aqueles que as histórias das artes legítimas fizeram seus durante tanto que quase se lhe tornaram conaturais: a ladainha das filiações, das influências, das contra-influências, das recusas e das submissões, de tudo o que é necessário para pensar as obras, exclusivamente, em função das suas proveniências, mesmo as mais recentes, que será preciso então fazer das antigas e, umas e outras, de um mesmo criador? As imagens do cinema estão assinadas? São transportadas juntamente com o seu pedigree? São retomadas de forma voluntária? Pode imaginar-se uma imagem a migrar sozinha, apenas devido à sua qualidade de imagem?"
|
|