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Sinopse por: Luís Nogueira Excerto do texto: "A experiência contemporânea e o rápido desenvolvimento da Internet e das tecnologias da informação tem vindo a demonstrar a necessidade de análise do efeito dessa interactividade associada à construção da realidade virtual e da vertigem da simulação do sujeito maquínico. Objectivamente, e dentro duma tradição do pensamento que remonta à caverna platónica, se o Espelho de Alice e os heterónimos pessoanos são a continuidade (interseccionista) de um «fora» e de um «dentro»; então, a mimetologia tecnológica, ao impor uma figura única e aparentemente neutra (a da interactividade) e, consequentemente, uma fusão, desloca essa constante reversibilidade para um ininterrupto stream of consciousness colectivo (ciberespaço, «aldeia global»), num fluir constante de imagens. Consequentemente, a divisão maquínica (digital) transforma o nosso espírito, já não num rio (heracliteano), mas sim num arquivo e numa database.<br>
Ora, os dispositivos do processo heteronímico pessoano e a escrita desses «companheiros do espírito» (e a própria escrita é, por si só, já uma tecnologia do desdobramento) dá-se no entrecruzar virtual, especular (=de speculum) e transiente (isto é, em trânsito) em que se desenvolve a máquina de produzir multiplicidades e de «sentir tudo de todas as maneiras», tratando-se esse processo, como escreve num dos fragmentos, de «uma maneira nova de empregar um processo já antigo» (20-70r). Nesta «ordem do discurso», cada sujeito é uma espécie de ventríloquo do ortónimo, «escondido» (mediaticamente), como Cervantes se esconde por detrás de D. Quixote, Valéry do «Monsieur Teste», Borges de «Pierre Ménard» e Goethe de «Eckermann»".
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