|
Sinopse por: Graça Gonçalves Da introdução: "Empregamos correctamente a palavra narrativa (récit) sem nos preocuparmos com a sua ambiguidade, por vezes sem a percebermos, e algumas das dificuldades da narratologia derivam talvez de tal confusão. Parece-me que, se se quiser começar a ver mais claro neste domínio, têm que distinguir-se claramente sob este termo três noções distintas. Num primeiro sentido _ que é hoje o mais evidente e o mais central no uso comum_ , narrativa designa o enunciado narrativo, o discurso oral ou escrito que assume a relação de um acontecimento ou de uma série de acontecimentos: assim, chamar-se-á narrativa de Ulisses ao discurso do herói perante os Feácios nos cantos IX a XII da Odisseia e, logo, a esses mesmos quatro cantos, ou seja, ao segmento do texto homérico que diz ser sua fiel transcrição. Num segundo sentido, menos difundido, mas hoje corrente entre os analistas e teóricos do conteúdo narrativo, narrativa designa a sucessão de acontecimentos, reais ou fictícios, que constituem o objecto desse discurso, e as suas diversas relações de encadeamento, de oposição, de repetição, etc. "Análise da narrativa" significa, então, o estudo de um conjunto de acções e de situações consideradas nelas mesmas, com abstracção do medium, linguístico ou outro, que dele nos dá conhecimento: neste caso, as aventuras vividas por Ulisses desde a queda de Tróia até à sua chegada junto de Calipso. Num terceiro sentido, que é aparentemente o mais antigo, narrativa designa, ainda um acontecimento: já não, todavia, aquele que se conta, mas aquele que consiste em que alguém conte alguma coisa: o acto de narrar tomado em si mesmo. (...)"
|
|