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Sinopse por: Luís Nogueira Enquadramento do texto, pelo próprio autor: "O enunciado profético é, por natureza, um enunciado instável, caprichoso, porque nem denuncia o real, nem o anula; antes o filtra. Como referiu A. Berthelot, o enunciado profético condiciona o leitor simultaneamente a desconfiar e a postular sentidos escondidos que extravasam o próprio texto. Isto quer dizer que o texto profético se insere num tipo de universo interpretativo pré-moderno, dominado por uma semiose em que o emissor é sempre entendido como entidade que se situa no coração do mistério, seja na imanência, seja na transcendência.
Os cristãos-novos de raíz islâmica de Aragão, os chamados moriscos que apenas depois de 1526 são confrontados com conversões obrigatórias, produzem alguns textos clandestinos de género profético, descobertos há pouco mais de cem anos dentro de paredes de casas rurais da região do Ebro. Esta comunidade, dominada pela catástrofe da sua própria degenerescência cultural, acabaria por ser expulsa em 1609 de Espanha. Estes textos clandestinos que o acaso deu a ler aos intérpretes da actualidade constituirão assim o testamento, ou melhor, o legado último de toda uma civilização que tinha iniciado a sua vida, na Península Ibérica, quase há um milénio antes. A nossa comunicação irá, embora muito sinteticamente, abordar o modo com a identidade destes moriscos surge reflectida em algumas das suas profecias (Ms.774,B.N.P.) de que me ocupei em doutoramento (Universidade de Utreque, Holanda, 1995)".
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