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Recensão por: João Carlos Correia
Falta título
Notícias de Risco e Rituais do Espectáculo: Dois inéditos inauguram nova colecção da Minerva
Por João Carlos Correia
Título: Ascensão e queda de notícias de risco
Autores: Jenny Kitzinger e Jacquie Reilly
Título: Reality shows: ritos de passagem da sociedade do espectáculo
Autor: Eduardo Cintra Torres
Cadernos Minerva. Minerva,Coimbra, 2002
A publicação em simultâneo de Ascensão e queda de notícias de risco e de Reality shows: ritos de passagem da sociedade do espectáculo por uma editora responsável, em grande parte, pela divulgação científica em Portugal nas áreas do Jornalismo e da Comunicação, constitui um bom augúrio para esta colecção de textos breves.
Ascensão e queda de notícias de risco, de Jenny Kitzinger e Jacquie Reilly traduzido e prefaciado por Cristina Ponte, merece, desde logo, uma referência por se tratar de uma primeira abordagem académica vinda a lume no nosso país, sobre uma actividade jornalística relativamente recente que vai recolhendo cada vez mais a atenção da opinião pública: as notícias sobre o risco relacionado com a ciência e a tecnologia.
O artigo compara a cobertura jornalística britânica de três áreas da ciência que se revelaram como objecto de particular atenção pelos media: a pesquisa genética, as ciências cognitivas e o chamado "síndroma da falsa memória" e, por fim, a saúde pública e a famosa "doença das vacas loucas".
Trata-se de um trabalho de sociologia da produção noticiosa que aborda os factores que permitiram a integração destes temas na agenda mediática, a sua transformação em notícia e o seu posterior declínio na atenção dos media.
Foram factores que condicionam as escolhas e decisões dos editores e jornalistas a escassez de conhecimentos ou a sua falta de "àvontade" para lidar com a linguagem científica; a exiguidade do formato noticioso; a escassez de formação especializada e a dependência de fontes oficiais; a existência ou não de eventos concretos que servissem de âncora para a elaboração de hard-news; existência ou não de interesse humano e de enquadramentos mediáticos prévios; a própria orientação política dos jornais e o facto das notícias proporcionarem ou não boas imagens.
O segundo título, Reality shows: ritos de passagem da sociedade do espectáculo, reúne onze artigos publicados pelo crítico de televisão Eduardo Cintra Torres no jornal Público. Além das crónicas agora reunidas em volume, inclui um inédito onde se analisam os reality shows como rituais de passagem em que os iniciados aprendem o modo de ser próprio da sociedade do espectáculo: o "ser-se conhecido". Através destes rituais, onde pontuam sacerdotes, confessionários e expulsos, ascende-se à aristocracia da sociedade mediática contemporânea.
Os textos apresentados, relativos a programas como Bar da TV, Masterplan e Big Brother, caracterizam-se pelo uso de uma linguagem por vezes caricatural, feita de paradoxos e de irreverências mais ou menos subliminares.
Eduardo Cintra Torres assume uma postura algo provocadora e explora contradições do olhar socialmente correcto da classe média, interpelado no Big Brother pela erupção de um gosto geralmente oculto, normalmente classificado como "rasca".
Enquanto crónicas, os textos funcionam, no seu conjunto, como uma interpelação interessante aos costumes de um país que se transforma, costumes estes dados a ver nos programas que esse país visiona. Afinal, os Big Brothers espelham quem os espreita.
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