|
Recensão por: João Carlos Correia
Falta título
As Identidades do Jornalismo: dúvidas, ambiguidades e controvérsias
Por João Carlos Correia
A pergunta "porque é que as notícias como são?" é o eixo orientador deste novo livro de Nelson Traquina. Embora a questão só seja expressa no III Capítulo deste livro, ela serve de pano de fundo para argumentar contra a tendência ingénua de considerar a notícia como espelho da realidade e o jornalista como simples mediador (cfr. Traquina, 2002: 172). Assim, inquirir o que é o jornalismo é conhecer os contextos sociais e culturais onde os profissionais se movem. Esta inquirição, todavia, não implica um determinismo sociologista que negue a autonomia dos jornalistas como participantes activos na construção da realidade (cfr. Ibidem: 100).
Por um lado, o autor, nas relações com o sistema político, defende o jornalismo como actividade de controlo do poder e de mobilização para o exercício da cidadania. No relato histórico destas relações, o autor foca a liberdade como linha orientadora de uma constelação teórica que fornece legitimidade ao jornalismo emergente no final do século XIX. (cfr. Ibidem, 2002: 27). Ser jornalista implica um compromisso com um conjunto de valores, nos quais se incluem a liberdade, a independência, a autonomia e um forte empenho na busca da verdade (cfr. Ibidem135-137).
Por outro lado, apesar de as notícias serem uma construção social, resultante de interacções entre agentes que as mobilizam em prol das suas estratégias e os jornalistas, a manipulação só se verifica quando os métodos de promoção das estratégias de comunicação são ilegítimos (cfr. Ibidem: 16). Embora as regras de construção do jornalismo constituam uma gramática cultural operada por pessoas que trabalham no interior de um sistema cultural (cfr. Schudson e Colby apud Ibidem: 97) o texto insiste no reconhecimento da "autonomia relativa" do jornalismo (cfr. Ibidem: 13).
Nelson Traquina recorre à noção de campo como espaço onde coexistem o pólo da ideologia profissional, em que se reflecte o modo de conhecer e agir do jornalista e o pólo económico centrado em vender os produtos à audiência. Esta ambivalência é o cerne da preocupação do autor em preservar a dignidade do jornalista.
O livro reflecte as orientações do autor sobre o ensino do Jornalismo. Não é um Manual de prática jornalística. É um manual teórico de jornalismo "escrito na convicção de que o jornalismo supera largamente o domínio das técnicas jornalísticas" (Ibidem, 2002:11).
Reconhecendo as contradições em que esta actividade se desenvolve, Nelson Traquina define o jornalista e a produção noticiosa no contexto das suas ambiguidades e rotinas quotidianas e do seu difícil compromisso entre as normas e os factos. Traça assim um quadro de responsabilidade profissional que exige conhecimentos que ultrapassam os saberes baseados na experiência.
Texto académico mas ágil, "O Que é…Jornalismo" mobiliza conhecimentos para a compreensão das relações da comunidade jornalística com a sociedade e, em especial, com o sistema político. Torna-se, assim, uma introdução a um olhar mais exigente sobre o jornalismo contemporâneo.
|
|