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Recensão por: Sónia Marisa Pereira da Silva
Obra: O Poder do Jornalismo - Análise e Textos da Teoria do Agendamento
Obra: O Poder do Jornalismo - Análise e
Textos da Teoria do Agendamento
Autor: Nelson Traquina
Editora: Livraria Minerva Editora, Coimbra
Ano de publicação: 2000
Número de páginas: 145
Língua: Português
Recensão por: Sónia Marisa Pereira da Silva
Publicada em 2000 pela editora Minerva,
com o patrocínio do Instituto da Comunicação Social, a antologia - O Poder do
Jornalismo - Análise e Textos da Teoria do Agendamento - reúne um conjunto de
textos fundamentais, de diversos autores, sobre a teoria do agendamento.
Esta obra, que consideramos essencial,
vem suprir uma lacuna existente em Portugal, de disponibilização em língua portuguesa,
de literatura científica basilar na área da comunicação e do jornalismo. Abrindo
um parênteses no inicio desta recensão, consideramos ser de mencionar que o
Prof. Nelson Traquina tem sido um investigador empenhado em colocar à disposição
do público português alguns dos textos mais relevantes no que diz respeito à
communication research. A par da obra aqui analisada, da sua responsabilidade
como organizador são também, por exemplo, a antologia Jornalismo: Questões,
Teorias e "Estórias” (1), e o n.º 27 da Revista de Comunicação e Linguagens,
intitulado Jornalismo 2000 (2).
O conceito de agendamento foi pela primeira
vez enunciado em 1972 pelos investigadores Maxwell E. McCombs e Donald L. Shaw,
na sequência do seu estudo empírico realizado durante a campanha presidencial
norte-americana de 1968 com o objectivo de comprovarem o poder de agendamento
dos media, ou seja, a capacidade dos media promoverem a agenda de temas que
eram objecto de debate e interesse público.
Este estudo marcaria o início de uma nova
linha de investigação na área do newsmaking, numa época em que dominava a tese
de que os media exerciam um poder de influência muito relativo e limitado sobre
a sociedade. Contrariando a ideia vigente, o estudo de McCombs e Shaw evidenciaria,
corroborando a tese que Bernard Cohen já havia defendido em 1963 (não lhe atribuindo
contudo uma designação específica), que os media têm um papel determinante no
que se refere a "dizer aos seus próprios leitores sobre o que pensar. O
mundo parece diferente a pessoas diferentes, dependendo do mapa que lhes é desenhado
pelos redactores, editores e directores do jornal que lêem". (3)
Mais de 20 passados desde o primeiro estudo
de McCombs e Shaw dedicado à teoria do agendamento, constatamos que um longo
percurso foi percorrido; a ideia fundadora foi desenvolvida, esmiuçada e re-analisada
através de novos estudos, que colocaram novas hipóteses, tornando-a mais complexa
e abrangente. É exactamente desta evolução, das linhas de investigação que foram
seguidas a partir da ideia inicial, que trata a segunda parte da obra aqui analisada.
Contudo, antes de passarmos a uma leitura
mais aprofundada do conteúdo desta antologia, convirá dar a conhecer a sua estrutura
física: a obra encontra-se dividida em duas partes distintas. A primeira parte,
intitulada "Análise", é constituída pelo texto de Nelson Traquina,
"A redescoberta do poder do jornalismo: análise da teoria do agendamento".
Neste, o autor começa por analisar diacronicamente a questão dos "efeitos"
dos media até ao surgimento da teoria do agendamento, a qual aborda posteriormente,
tanto na perspectiva da notícia como construção e factor de agendamento, como
ao nível do seu próprio desenvolvimento enquanto linha de investigação do newsmaking.
O último ponto deste artigo é ainda dedicado às reflexões do autor sobre a comunicação
política portuguesa, vista à luz da teoria do agendamento.
A segunda parte desta antologia, intitulada
"Textos", integra artigos seleccionados pelo autor sobre a teoria
do agendamento, constituindo um todo coerente e uma amostra representativa da
evolução desta linha de investigação ao longo das duas últimas décadas. Exceptuando
o último texto, um balanço realizado por McCombs e Shaw - vinte anos após publicação
do seu primeiro estudo sobre o agendamento - à evolução da pesquisa sobre esta
problemática, todos os outros restantes incluídos nesta segunda parte da antologia
se referem a estudos empíricos sobre o agendamento.
Respeitando a organização interna da obra,
passaremos agora a expô-la com maior detalhe, destacando os pontos que nos mereceram
mais atenção, e que consideramos serem ilustrativos do seu relevante conteúdo.
Como já tivemos oportunidade de referir,
o conceito de agendamento, ao reconhecer o poder de influência dos media sobre
a sociedade - particularmente ao nível da comunicação política - veio contestar
a tese dos "efeitos limitados" defendida na altura, que preconizava
que os media eram praticamente «inócuos» no que dizia respeito à sua interacção
com a sociedade. Na investigação que deu origem à teoria do agendamento (4),
McCombs e Shaw constatariam que existe uma relação causal entre a agenda dos
media noticiosos e a agenda pública, já que "a capacidade dos media em
influenciar a projecção dos acontecimentos na opinião pública confirma o seu
importante papel na figuração da nossa realidade social, isto é, de um pseudo-ambiente,
fabricado e montado quase completamente a partir dos mass media" (5).
Hoje, a complexidade do estudo do processo
de agendamento ultrapassa em muito a premissa inicial, envolvendo três componentes
distintas, mas interrelacionadas; segundo os autores Rogers, Dearing e Bregman,
citados por Traquina: "os estudos da agenda mediática (media «agenda-setting»),
definidos como os estudos do conteúdo dos media, os estudos da agenda pública
(public «agenda-setting»), definidos como os estudos que conceptualizam a relativa
importância dos diversos acontecimentos e assuntos por parte de membros do público,
e os estudos sobre a agenda da política governamental (policy «agenda-setting»),
definidos como o estudo da agenda das entidades governamentais" (6).
Na análise que realiza da teoria do agendamento,
vista à luz de uma teoria da notícia, Traquina começa por deixar bem claro que
os estudos sobre o agendamento não devem ser entendidos como estudos sobre os
media tout court, mas sim sobre os media noticiosos e respectivos conteúdos
jornalísticos.
E, no seguimento desta linha de pensamento,
para Traquina, os autores Molotch e Lester, ao identificarem três diferentes
categorias de agentes com papéis determinantes na noticiabilidade de determinados
factos - os news promotors (os promotores de notícias), os news assemblers (os
responsáveis pela transformação e difusão desses factos promovidos a notícia)
e os news consumers (os consumidores de notícias, ou seja, o público) - fornecem
um quadro distinto mas equivalente ao da tese do agendamento, no que concerne
a apresentar as relações existentes entre a agenda pública, a agenda da política
governamental e a agenda jornalística. Assim, como afirma o autor do artigo,
"os consumidores de notícias correspondem a membros sujeitos à influência
dos media que ajudam a constituir a agenda pública; os news assemblers correspondem
aos que determinam a agenda jornalística; os news promotors são constituídos
por aqueles que propõem a agenda da política governamental mas também por outros
agentes especializados e membros do «campo político», cada um com a sua «agenda
política»" (7). Molotch e Lester reconhecem também a acção decisiva que
o jornalismo hodierno possui, no centro destas relações de força concorrencial
para «promover acontecimentos a uma existência pública», ao determinar se um
qualquer facto será ou não elevado a notícia. Neste poder - onde entram diversas
variáveis intrínsecas ao campo jornalístico, como sejam os critérios de noticiabilidade,
a própria necessidade de notícias por parte dos jornalistas, o tempo, a narrativa
jornalística, etc. - acrescenta Traquina, reside uma noção basilar do agendamento;
a de que um facto não dotado de existência pública, «não existe».
Voltando à evolução histórica da teoria
do agendamento, há primeiramente que referir que os estudos empíricos surgidos
após a publicação do artigo de McCombs e Shaw tinham como objectivo testar e
comprovar a efectiva existência de uma "relação causal entre a agenda jornalística
e a agenda pública" (8). Gradualmente, com o desenvolvimento de novos estudos
e a colocação de novas hipóteses a complexidade e a abrangência das investigações
intensificou-se, conduzindo a que o conceito inicial - de que a agenda jornalística
tinha «algum» poder de influência sobre a agenda pública - se ampliasse. Parafraseando
Cohen, desde já citado por Traquina e McCombs, podemos dizer que os resultados
apontam na direcção de os media possuírem um real poder de influência naquilo
em que pensamos, como o pensamos e, necessariamente, sobre o que pensamos.
Na reflexão que Nelson Traquina faz do
Portugal de 1995, no tocante à convivência entre o campo político e o campo
jornalístico, entende que, mercê principalmente da sua ainda recente condição
de democracia, não estão reunidos os requisitos que garantem a autonomia e independência
do campo jornalístico relativamente ao campo político.
Se, por um lado, a comunicação política
continua a ser utilizada em proveito próprio dos partidos e do governo, condicionando
o acesso à informação e não colocando em primeiro lugar o interesse público,
por outro, ao subsistir em Portugal o livre acesso à profissão de jornalista,
não se garante a premissa basilar do jornalismo, de «informar bem»; O grau de
complexidade da sociedade actual, a evolução tecnológica, a «aceleração» do
tempo, são factores que não se compactuam com jornalistas não qualificados,
aos quais o público tem o direito de exigir profissionalismo, verdade e responsabilidade
ética e social.
"A função do agendamento dos media",
de Maxwell E. McCombs e Donald L. Shaw é o primeiro artigo da 2.ª parte desta
antologia e resulta da investigação que constituiu o "primeiro teste à
teoria do agendamento" (9).
A partir de um estudo efectuado a cem eleitores
indecisos durante a campanha presidencial norte-americana de 1968, em que os
investigadores confrontaram as questões-chave da campanha apontadas pelos inquiridos
com os conteúdos noticiosos veiculados sobre a mesma pelos media, McCombs e
Shaw verificaram a existência de uma consonância positiva entre os assuntos
que os entrevistados haviam seleccionado, como sendo os principais da campanha
e os que haviam obtido maior destaque por parte dos media, concluindo que, "ao
divulgarem aquilo que os candidatos vão afirmando durante uma campanha, os media
podem muito bem determinar quais são as questões importantes, ou seja, podem
estabelecer a "agenda" da campanha. (10)
Uma outra constatação deste estudo, relativamente
à influência que os media noticiosos evidenciaram, diz respeito à variação do
poder de agendamento entre distintos tipos de media. Os resultados demostraram,
por um lado, que as correlações não eram uniformes em todos os tipos de media
nem em todos os grupos de inquiridos e, por outro, que a consonância, no que
respeita à definição dos temas mais importantes e menos importantes, era maior
entre media similares. Assim, ainda que os autores da investigação não possam
provar uma inequívoca função de agendamento por parte dos media, atestam que
"os dados estão em consonância com as condições que têm de existir no caso
de a função referida ocorrer". (11)
O texto de Weaver, McCombs e Spellman,
"Watergate e os media: análise de um caso de agendamento", foi publicado
inicialmente em 1975. Tendo em consideração os resultados obtidos com as investigações
precedentes sobre o agendamento, e servindo-se da cobertura noticiosa do caso
Watergate, este estudo empírico pretendeu comprovar as seguintes hipóteses:
"o uso dos media para obter informação política está positivamente relacionado
com a alteração na saliência atribuída ao caso Watergate ao longo do tempo";
"o uso dos media para obter informação política está mais positivamente
relacionado com a importância atribuída ao assunto Watergate do que a discussão
interpessoal dos assuntos políticos, independentemente da simpatia partidária
ou da escolha de candidato presidencial"; "o nível da necessidade
de orientação sentida por cada pessoa relativamente a questões políticas está
positivamente relacionado com o uso dos media para obter informação política,
independentemente da simpatia partidária ou da escolha de candidato presidencial".
(12)
O estudo empírico passou pelo estudo de
um painel de eleitores de Charlotte, no Estado da Carolina do Norte, com entrevistas
em quatro momentos diferenciados ao longo de 11 meses, em que os investigadores
tentaram aferir tanto a sua frequência de uso dos media para obtenção de informação
política durante a campanha de 1972, como a proeminência do caso Watergate,
a sua necessidade de orientação, a importância que atribuíam à política e a
sua incerteza partidária. Paralelamente, foi também efectuada uma análise de
conteúdo, em dois momentos temporais distintos, ao jornal local.
Após a avaliação dos dados, os investigadores
concluíram que, no que concerne à primeira hipótese avançada, a mesma não ficou
provada, uma vez que, ainda que houvesse uma correspondência positiva geral
entre o uso dos media para obtenção de informação política e a cobertura noticiosa
destacada conferida ao caso Watergate ao longo do período estudado, em alguns
momentos, a correlação foi negativa.
Quanto à segunda e terceira suposições,
os dados obtidos confirmaram-nas, demonstrando que existiu tanto uma correlação
positiva entre uso dos media e o destaque conferido ao caso Watergate, como
entre a necessidade de orientação política, e a utilização dos media para obtenção
de informações políticas.
Os resultados deste estudo, ao qual os
investigadores acrescentaram a realização de testes bi-seriais e análise de
sequência, para fornecimento de "dados sobre a sequência temporal das relações
entre as variáveis em estudo" (13), permitiram-lhes subscrever a tese avançada
por McCombs e Shaw em 1972 sobre a função de agendamento dos media. Simultaneamente,
os dados obtidos permitiram-lhes acrescentar uma nova conclusão; a de que "o
impacto da função de agendamento da comunicação de massas não pode ser aplicado
por igual a todas as pessoas; está dependente do conceito psicológico de necessidade
de orientação" (14) e, ainda que, nas pessoas com maior necessidade de
orientação sobre questões políticas, os media não se limitam a reforçar as convicções
pré-existentes. Ao destacarem determinadas questões, os media fornecem pistas
que influirão na sua avaliação pessoal acerca de candidatos e partidos políticos.
Deste facto deriva necessariamente, na
opinião dos autores, que os media não se podem limitar a "tratar os assuntos
políticos com equidade; devem também considerar a sua responsabilidade na escolha
quer dos acontecimentos e assuntos a tratar quer da dimensão a conferir a esse
tratamento, com a mesma equidade". (15)
O terceiro texto incluído nesta antologia,
"Jornalismo de Cruzada: mudar atitudes públicas e agendas políticas",
corresponde à terceira de uma série de investigações efectuadas por Donna R.
Leff, David L. Protess e Stephen C. Brooks, que pretendiam "identificar
os efeitos de agendamento do jornalismo de investigação quer sobre o público
quer sobre os decisores políticos". (16)
Para examinar os efeitos de agendamento
"de uma série de investigação televisiva, estruturada em cinco partes,
sobre comportamentos sistematicamente violentos de agentes da autoridade de
Chicago" (17), os investigadores adoptaram um formato experimental de análise,
que incluiu a realização de um pré-teste (antes da emissão da série, ao conteúdo
da qual tiveram prévio acesso) e de um pós-teste (após a emissão da série) a
um conjunto de 428 inquiridos. Simultaneamente, foram inquiridos 35 "decisores"
com responsabilidades políticas e policiais.
Os dados obtidos com a análise das respostas
do pré-teste e do pós-teste indicaram que, após a emissão da série televisiva
sobre a violência policial, os inquiridos da primeira amostra concediam uma
maior importância ao problema da violência policial, que antes da referida emissão.
Relativamente aos "decisores",
considerando que estes foram seleccionados pelo seu interesse na temática da
violência policial e, portanto, já estavam familiarizados com o assunto, os
investigadores não esperavam diferenças muito significativas na análise comparativa
das respostas recebidas nos dois testes. Contudo, houve a assinalar que os decisores
que haviam assistido à transmissão da série apresentaram "alterações significativas
em duas das três questões factuais sobre a violência policial". (18)
Comparando os resultados distintos que
alcançaram nos três estudos efectuados sobre peças de jornalismo de investigação
(abordando, respectivamente, as temáticas de fraude no programa de cuidados
de saúde (19) “procedimentos inadequados por parte do Governo na divulgação
e tratamento de casos de violação” e a violência policial) divulgadas na televisão
(primeiro e terceiro estudo) e na imprensa (segundo estudo), os investigadores
concluíram que a intensidade do agendamento variava, dependendo da tipologia
do media utilizado, aumentando significativamente no caso das reportagens televisivas.
Paralelamente, consideraram ainda que, tanto a temática tratada pela reportagem,
como a qualidade jornalística e o registo estilístico utilizado na peça podem
ser variáveis importantes, no que respeita aos efeitos do agendamento.
"Conquistar o público: informação, orientação
e o processo democrático no conflito do Golfo", de W. Lance Bennett e Jarol
B. Manheim, resulta de um estudo mais recente, efectuado entre 1990 e 1991,
para análise do "enquadramento de sinais ("cues") em que o conflito
do Golfo Pérsico foi apresentado ao povo americano pelos media noticiosos, discutindo
em que medida este retrato facilitou ou impediu a emergência no momento oportuno
de um debate público pertinente sobre as reacções políticas à invasão do Kuwait
pelo Iraque". (20)
O conflito do golfo pérsico, em termos da teoria
do agendamento é um caso paradigmático, ilustrando bem o poder dos media sobre
a sociedade; não só influenciam ao nível do «sobre o que pensar», mas igualmente
do «como pensar nisso».
Aquando da invasão do Kuwait pelo Iraque, o desconhecimento
dos americanos relativamente aquela área do globo era quase total. Esta tábua
rasa de informação prévia possibilitou, por um lado, que as partes interessadas,
mediante uma comunicação estrategicamente delineada "gerassem sinais que
iriam moldar a opinião pública" (21) e, por outro, que se desenrolasse
uma cobertura noticiosa desequilibrada e desenquadrada do conflito, formadora
de uma opinião pública tendenciosa.
A partir da análise de conteúdo noticioso do New
York Times entre Agosto de 1990 e Maio de 1991, os autores intentaram demonstrar
que esta cobertura desigual do conflito, que deu relevância às fontes e notícias
que apoiavam a operação militar defendida pelo governo dos EUA e silenciou as
vozes da oposição, proporcionou "ao governo uma oportunidade para definir
a crise nos seus próprios termos e (garantiu) que poucas mensagens dissonantes
pudessem intervir para minar o enquadramento jornalístico resultante".
(22)
Constataram, efectivamente, que a principal fonte
de informações sobre o conflito foi o próprio governo dos EUA e que as vozes
favoráveis à sua política, fossem nacionais ou internacionais, tiveram direito
a uma maior presença nos media que as vozes da oposição. Por outro lado, os
investigadores verificaram também que a orientação editorial do New York Times
esteve, na maioria das vezes, em consonância com o poder legitimado, apoiando
as decisões do governo de Bush. Como resultado, o público obteve uma informação
desequilibrada e descontextualizada ou, por outras palavras, manipulada, que
se manteve durante todo o tempo que durou o conflito e, diríamos, ainda persiste.
O balanço da evolução e do contributo do conceito
do agendamento para a communication research é efectuado pelos «fundadores»
da teoria, com o artigo "A evolução da pesquisa sobre o agendamento: vinte
e cinco anos no mercado das ideias" e fecha esta antologia.
Desde o estudo inicial de McCombs e Shaw, em 1972,
o conceito de agendamento tem constituído objecto de estudo de uma multiplicidade
crescente de investigações que, progressivamente, têm vindo a aumentar a sua
amplitude e complexidade.
McCombs e Shaw, identificam já quatro fases distintas
do conceito de agendamento. A fase inicial diz exactamente respeito ao lançamento
da hipótese básica de agendamento, no seu estudo efectuado em 1972. A segunda
etapa consistiu, por um lado, em repetir e comprovar os resultados alcançados
na primeira investigação e, por outro, em investigar as variáveis da intensidade
do agendamento, com relevância para o factor «necessidade de orientação». Na
terceira fase, o conceito de agendamento foi aplicado a dois novos domínios;
"a agenda das características do candidato noticiadas pelos media e apreendidas
pelos eleitores" e a "agenda das preocupações pessoais" (23).
Já num quarto momento, que os autores situam na década de 1980, os trabalhos
de investigação focaram a sua atenção nas fontes que determinam a agenda dos
media.
Face a este interesse comprovado dos investigadores
pelo conceito de agendamento, a tese original foi interruptamente retomada,
albergando novas e crescentes variáveis, e tem vindo a ser encaminhada para
a exploração de novas perspectivas dos massmedia. E, conforme nos sugerem McCombs
e Shaw, no encerrar do seu texto, "investigações novas que exploraram as
consequências do agendamento feito pelos media sugerem que os media não só nos
dizem sobre o que é que devemos pensar, como também nos dizem como pensar nisso;
portanto, consequentemente, o que pensar". (24)
É, no nosso entendimento, uma
conclusão que deixa uma mensagem latente; se por um lado, a teoria do agendamento
veio redescobrir o poder do jornalismo, por outro, o reconhecimento desse poder
tem que exigir da parte dos media uma maior atenção e o cumprimento de um pressuposto
que, esse sim, sempre lhe esteve cometido; o dever de responsabilidade para
com a sociedade.
Notas:
1 - TRAQUINA, Nelson
(org) - Jornalismo: Questões, Teorias e "Estórias". 2.ª ed. Lisboa:
Vega. 1999
2 - Revista de Comunicação
e Linguagens: Jornalismo 2000 (org. Nelson Traquina). Dir. Maria Augusta Babo.
Centro de Comunicação e Linguagens. N.º 27 (2000). Lisboa: Relógio D'Água Editores,
2000.
3 - Cit. por TRAQUINA, Nelson
(org) - O poder do jornalismo: análise e textos da teoria do agendamento. 1.ª
ed. Coimbra: Livraria Minerva Editora. 2000. p. 17
4 - Na qual nos deteremos
com maior pormenor mais à frente ao referirmo-nos ao texto de McCombs e Shaw,
"A função de agendamento dos media".
5 - Cit.. por TRAQUINA, Nelson - Op. Cit. p. 14
6 - Cit.. por TRAQUINA, Nelson - Op. Cit. p. 18
7 - TRAQUINA - Op. Cit.
p. 20
8 - Idem. p. 32
9 - McCOMBS, Maxwell
E.; SHAW, Donald L. - A função de agendamento dos media. In
TRAQUINA - Op. Cit. p. 57
10 - Idem. p. 47
11 - Idem. p. 57
12 - WEAVER, David H.;
McCOMBS, Maxwell E.; SPELLMAN, Charles - Watergate e os media:
análise de um caso de agendamento. In TRAQUINA - Op.Cit. p. 67
- 68. Itálico
dos autores.
13 - Idem. p. 71
14 - Idem. p. 76
15 - Ibidem.
16 - LEFF, Donna R.;
PROTESS, David L.; BROOKS, Stephen L. - Jornalismo de cruzada: mudar atitudes
públicas e agendas políticas. In TRAQUINA - Op.Cit. p. 77
17 - Idem. p. 80.
18 - Idem. p. 91
19 - Idem. p. 79
20 - BENNETT, Lance
W.; MANHEIM, Jarol B. - Conquistar o público: informação, orientação e o processo
democrático no conflito do Golfo. In TRAQUINA - Op. Cit. p. 97
21 - Idem. p. 101
22 - Idem. p. 104
23 - McCOMBS, Maxwell
E.; SHAW, Donald L. - A evolução da pesquisa sobre o agendamento:
vinte e cinco anos no
mercado das ideias. In TRAQUINA - Op. Cit. p. 125
24 - Idem. p. 135
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