|
Recensão por: Paulo Mendes Pinto
Falta título
História dos Sefarditas: de Toledo a Salónica
Por Paulo Mendes Pinto
BENBASSA, Esther, RODRIGUE, Aron, História dos Sefarditas: de Toledo a Salónica, Lisboa, Inst. Piaget, 2001, 364 pp.
Numa tradução de Luís Couceiro Feio, a dinâmica editora do Instituto Piaget apresenta em português a recente obra de síntese de Esther Benbassa e de Aron Rodrigue. Trata-se de uma obra que apresenta uma visão global da História sefardita, publicada em França no ano de 2000. Recuando um pouco no tempo, trata-se, com retoques, da reedição da obra dos mesmos autores, de 1993 (BENBASSA, Esther, RODRIGUE, Aron, Juifs des Balkans: espaces judéo-ibériques, XIV-XXe siècles, Paris, Ed. la Découverte, 1993, 415 pp.) - obra também existente na Biblioteca Alberto Benveniste com a cota HG-63.
Os autores, por demais conhecidos do público interessado em estudos sefarditas, apresentam um elo bastante forte ao meio científico nacional. Ambos fazem parte do Centro de Estudos Alberto Benveniste na Sorbonne: Aron Rodrigue é membro da Comissão Científica, e Esther Benbassa é a sua Directora.
O livro encontra-se organizado em cinco capítulos. A saber: "Comunidade e Sociedade", "Economia e cultura", "Os judeus dos Balcãs na era da modernização", "Da modernização à politização" e "A destruição do espaço cultural sefardita: shoah e emigração".
A grande questão que trespassa toda a obra centra-se na continuidade da cultura sefardita, ou no seu desaparecimento. Todo o capítulo cinco (pp. 279-326) se encontra marcado por esta interrogação que já fora antes lançada no "Prólogo" (p. 21).
A nível de análise cultural, o argumento construído pelos autores assenta na dispersão e no desaparecimento da Península Ibérica enquanto centro de gravidade do mundo judaico (p. 13).
Como por várias vezes é referido, a obra começa com o primeiro golpe na identidade cultural, terminando no último e derradeiro. A análise de conjunto é lançada com o fim da existência de um espaço hispano de identidade judaica, terminando com as directas e indirectas consequências da shoah, o holocausto.
No que diz respeito ao primeiro momento os autores lançam o fim de uma identidade sólida, percebendo o nascimento de uma identidade diaspórica, centrando a sua análise nas comunidades dos Balcãs.
No que diz respeito ao fenómeno cronologicamente mais próximo de nós, os autores realçam duas vertentes que conduziram fortemente para o enfraquecimento da cultura sefardita: o holocausto em si, destruindo e aniquilando comunidades inteiras (que sob o directo comando nazi, ou sob deportações do regime fascista de Mussolini), e as imigrações posteriores para o espaço do Estado de Israel. Em qualquer dos casos, a análise centra-se no fim, na derrocada, da cultura sefardita enquanto uma entidade judaica autónoma e com vida e características próprias.
Logicamente, o que merece destaque na análise é como que a noção diaspórica bi-etápica que é apresentada. Um primeiro momento lança as comunidades para fora do espaço que lhes deu o nome (sefardim); um segundo momento, depois de equilibradas económica e culturalmente, essas comunidades são forçadas a mais uma diáspora - os resultados são tidos como devastadores para a identidade colectiva.
O enfoque centra-se nos Balcãs porque foi para ai que se deslocaram boa parte dos sefarditas. Foi aí que as comunidades judaicas cimentaram uma hegemonia cultural sefardita, hispânica. Fora desses espaços, os sefarditas quase sempre foram minoritários e, portanto, facilmente absorvidos culturalmente.
Desta forma, o livro que Esther Benbassa e de Aron Rodrigue nos oferecem é a análise histórico-cultutal da possibilidade da existência da identidade e da cultura sefardita.
Este livro é ainda uma tentativa de deslocar o tradicional enfoque dos estudos sefarditas de Ocidente para Oriente. A chamada "idade de ouro" da cultura sefardita, centrada nas grandes comunidades das cidades árabo-cristãs do fim da Idade Média peninsular, tem monopolizado os investigadores, lançando para um segundo plano a verdadeira compreensão das comunidades em diáspora.
|
|