|
Recensão por: João Carlos Correia
Falta título
Jornalismo nas regiões: proximidade e micro-poderes
Por João Carlos Correia
A ambiguidade entre o geral e o particular é um dos traços do fenómeno económico cultural e político que dá pelo nome de globalização. A par da mundialização, vive-se na época dos discursos de proximidade: ao lado da McDonalds e dos megamedia exalta-se a cozinha caseira e o jornalismo regional. Fala-se mais do que nunca de gestão local, políticas locais, identidades e culturas locais. Emergem movimentos sociais marcadas pela diferença e pelo localismo. De entre um coro de discursos comunitários, emergem os discursos da imprensa regional.
Com precisão académica e escrita atraente, Carlos Camponez aborda um dos temas incontornáveis da actualidade: a dialéctica entre o global e particular. Na análise desta oscilação entre global e particular desenha-se uma abordagem da globalização e suas consequências culturais e mediáticas. Esta implica o reconhecimento da crise da capacidade mediadora do Estado, assente em fenómenos como a desterritorialização - a derrocada da visão tradicional do espaço marcada pela continuidade e hierarquia - e a aceleração do tempo, resultante da multiplicação de acontecimentos. Por outro lado, implica que os projectos universalistas se confrontem com a afirmação irredutível de culturas singulares: miríades de pequenas aldeias gaulesas resistem incólumes às legiões da globalização. Neste processo, a cultura e a comunicação servem de interface entre o global e o local, dois modos de formulação da identidade que, no limite, oscilam entre o integrismo e o universalismo mercantil, entre o mundo mcdonalizado e a Djihad.
Depois de relativizar o conceito de media de massa rejeitando olhar os receptores como receptáculos passivos, Carlos Camponez assegura que a realidade mediática encerra em si uma pluralidade de significações e de possibilidades comunicativas. Recorre, por isso, a modelos de análise onde comunicação e identidade podem estar de mãos dadas e onde ressurge a possibilidade de coabitação entre diversos regimes discursivos. De olhos postos em estratégias de dinamização da cidadania (como o jornalismo cívico) os media regionais emergem como um possível instrumento privilegiado de redinamização das relações comunitárias, alternativo aos modelos de comunicação massificadas. marcado pela recusa da lógica meramente empresarial.
Será porém que esta sua vocação cívica é tão manifesta quanto, por vezes, se pretende? Para responder à questão, analisa-se o papel desempenhado pela Imprensa Regional de Leiria na contestação da co-incineração em Maceira e conclui-se que esta, ao comprometer-se com as causas regionais, pode originar um discurso tão fechado e imobilista quanto outros. Urge, afinal, manter reservas quanto ao discurso local, empenhado e de causas, por vezes interpretado de forma romântica pelos defensores do ressurgimento de espaços públicos regionais polarizados em torno de uma imprensa alegadamente alternativa à comunicação de massa.
|
|