A manipulação retórica e estética das emoções pelas primeiras
ditaduras tecnológicas do século XX. A difusão do espetáculo na sociedade
contemporânea. A produção de relações sociais por imagens a serviço do mercado
global. A tatilidade na mídia eletrônica. A Comunicação indicial na televisão e
na rede cibernética. (SODRÉ, 2006 p.73).
“Estratégias Sensíveis:
afeto, mídia e política” é o resultado da atividade do pesquisador junto ao
CNPq. Primeiramente é importante ressaltar que, de forma dialética, o ator traz
contribuições de autores como Baudrillard, Bobbio, Rorty, Deleuze, Vattimo. O
autor analisa, ao longo de seu livro, pormenores do império da mídia, as formas
emergentes de sociabilidade e os novos moldes da comunicação. Além disso,
demonstra como as “estratégias sensíveis” que permeiam as avançadas tecnologias
de informação, refletindo acerca da retórica e da estética das emoções pelas
primeiras ditaduras tecnológicas do século XX.
Podemos considerar que o segundo capítulo da obra:
“O Emotivo e o Indicial na Mídia”, capítulo no qual mais nos trouxe interesse
em resenhar traz as manipulações retóricas e estéticas das emoções, que são
vistas segundo o autor num questionamento a partir de Adolf Hitler. Este
questionamento é aprofundado nas análises de performance oratórias dos
inflamados discursos de Hitler. Conforme Sodré (2006), as “Artes da Expressão e
da Persuasão”, termos muito empregados na técnica da política, que na
contemporaneidade tem sido empregada fortemente em outras áreas. As táticas de
discurso hitleristas configuram-se primeiramente, como estéticas, na medida em
que, com toda exaltação fanática, legitimam pela dimensão sensível as suas
convicções políticas e religiosas. (SODRÉ, 2006, p. 74). O autor nos esclarece
que o exemplo de Hitler são velhos artifícios políticos de discursos:
persuasão, convencimento.
Diante disso, o autor encontra uma referência
comparativa, em que aproxima o discurso político de Hitler à publicidade
comercial contemporânea. Nesse sentido, parte do princípio que o objetivo da
publicidade presenteísta está de acordo com e a serviço do mercado
global. Com o império da mídia, as técnicas retóricas de persuasão e controle
de massas, exacerbadas pela propaganda política, terminaram sendo apropriadas
pela publicidade comercial. (SODRÉ, 2006, p. 75). Essa aproximação é dada entre
os sentidos dos discursos pelos atos de persuadir, emocionar, abrir canais
lacrimais (no caso das catástrofes norte-americanas retratadas na obras
fílmicas, exploradas como exemplos pelo autor), com um único objetivo: o
processo de interlocução tornando-se banalizado. O autor esclarece que este
resultado vai depender desses efeitos de sentido: de como a mídia vai
transmitir a notícia ou de como ela é veiculada para seu interlocutor. Nesses
aspectos o autor nos coloca diante de vários exemplos em que mostra os planos
de valores tanto da mídia, quanto da publicidade.
Nesta relação de poder da mídia, em que
ela pode ou não transformar um fato em espetáculo em “O espetáculo com
realidade”, subtítulo utilizado por Sodré (2006) evidencia o esclarecimento que
a indústria dos espetáculos é responsável pela reorientação em três viesses:
hábitos, percepções e sensações. Assim, é sintetizada pelo autor pela
exploração psíquica dos indivíduos e a fetichização das mercadorias da
publicidade. Evidentemente, o espetáculo é uma elaboração socialmente relevante
desde a Antiguidade, em qualquer que seja o complexo civilizatório. (SODRÉ,
2006, p 80). Para o autor esse processo é histórico e que caracteriza como uma
ressignificação pela lógica do espetáculo, graças a essa reorientação
intelectiva e afetiva.
A Teoria do Sensível, de acordo com Sodré (2006), recorre da origem
moderna da estética (1750-1758) de Baumgarten para descrever a epistemologia da
sensibilidade: (...) o belo – signo intrínseco do que há de verdade na sensação
– teria valor cognitivo, o inventor da estética punha-se na contramão de Kant,
ára quem a aparência sensível é apenas fonte (pedagógica, provisória) de saber.
(SODRE, 2006, p.86). Para Baumgarten, “a beleza não é apenas a marca do
sensível da idéia, mas o único modo possível de manifestação de determinados
objetos, o que garante à estética a sua autonomia em termos de conhecimento”.
(BAUMGARTEN, apud SODRÉ, 2006, p.86). Nesse sentido, na linha de pensamento
dos principais teóricos que Sodré refletiu traz como a importância do signo
estético na sua pluralidade do sentido, ou seja, ele possui a polissemia, que
justifica tanto a abertura do sentido como a relação mutável com o mundo
externo, dando as inúmeras possibilidades de relações de efeitos de sentido ao
interlocutor.
Sodré (2006) quando reflete sobre “Signo e Comunicação” traz como
principal referencia Peirce e, em menor proporção, Jakobson para refletir sobre
o papel do signo, da Semiótica na comunicação. Nessa parte do livro, o autor
retoma algumas inferências já citadas em outras partes do livro, denominando o
espetáculo de hoje como um resultado da sobredeterminação histórica da
imagem. “A espetacularização é, na prática, a vida transformada em sensação ou
em entretenimento, com uma economia poderosa voltada para a produção e consumo
de filmes, programas televisivos, música popular, parques temáticos, jogos
eletrônicos” (SODRÉ, 2006, p.116). Em torno da distinção entre um novo tipo de
sensibilidade, o autor determina que aquele que se discerne entre o individual
e o coletivo, ou seja, a significação dos signos depende do seu interlocutor,
de como o indivíduo vive virtualmente ou não o seu espaço imaterial.
Nas partes denominadas por Sodré (2006) como: a circulação indicial
e o sentido da visão, o autor incita a indagação de quais sentidos seriam mais
explorados pela mídia: o tato ou a visão. No entanto, não deixa respostas para
tal questão, apenas nos direciona uma pensar sobre o tato, que – na ótica de
Sodré - poderia ser uma das formas mais usadas pela mídia.
Em “A Democracia Cosmética”, último capítulo de seu
livro, o autor reflete sobre o significado da política e algumas aproximações
do termo no seu sentido original do grego e as atuais aplicações na
modernidade. Ainda discute a democracia e a formação do estado democrático, bem
como a mídia sendo vista como uma esfera pública ampliada. Diante disso, a
compreensão global da obra de Sodré nos remete à idéia de que as estratégias
sensíveis são as recepções e os processos de interlocução dos sujeitos que
devem compreender a cultura contemporânea até sensorialismo nos modos de
operação das mídias.