Comunicação
Digital e Novos Comportamentos e Educação
Recensão
por Cátia Cilene Farago
Eduardo
Fofonca
Ninguém liberta ninguém.
Ninguém se liberta sozinho.
Os homens se libertam em comunhão.
(Paulo Freire)
“Comunicação Digital: educação, tecnologias e novos
comportamentos” é o resultado da continuidade de algumas reflexões que Barbosa
Filho e Castro começaram em 2005, quando convidaram autores de todo o país para
pensar coletivamente as mídias digitais e a convergência tecnológica sob o
prisma da inclusão social. Primeiramente é importante ressaltar que no período
de discussões o tema era relativamente novo, mais restrito e, a partir de
então, passaram a fazer parte da agenda de diferentes disciplinas e grupos de
pesquisa.
A referência em tela é dividida em duas partes. A
primeira trata, principalmente, de um ensaio a partir da ética e da política da
nova ordem tecnológica. Nesse sentido, acabam por refletir sobre a convergência
digital analisada sob o prisma desta nova ordem de tecnologia. Segundo os
autores, trata-se de uma Nova Ordem porque é possível e necessária uma
convivência saudável entre quem desenvolve e explora essas tecnologias e quem
as utiliza na perspectiva de um entendimento que permita inter-relações até
então impensadas.
De acordo com Barbosa Filho e Castro (2008), as transformações
tecnológicas que se manifestam a partir da década de 1980, advindas do uso dos
computadores e da internet, são um marco na sociedade ocidental. Para eles, as
transformações não se reduzem à tecnologia nem se propõem a colocar a
tecnologia em primeiro plano, a despeito do que poderia se pensar. Ainda que a
denominação desta mudança seja Nova Ordem Tecnológica, tem como prioridade
pensar os sujeitos e a inclusão social.
Portanto, a Nova Ordem Tecnológica propõe um olhar
caleidoscópio a partir de diferentes olhares e pontos de vista sobre estas
transformações, reconhecendo que o conceito engloba debilidades (como o risco
de ampliar a brecha digital) e fortalezas: a possibilidade de apropriação
universal do conhecimento. “Mas, principalmente, reconhece que o mundo, desde o
aparecimento da rede mundial de computadores no final do século XX, vem
sofrendo uma ampla e rápida transformação na área da economia, da política, da
cultura, do comportamento, das habilidades e das relações sociais” (BARBOSA
FILHO e CASTRO, 2008, p.32).
Segundo os autores, com as transformações a caminho,
a sociedade precisa ter possibilidade de acesso a estas tecnologias através de
políticas públicas que agreguem projetos de apropriação digital, de geração de
conhecimento e empregabilidade na área de tecnologias. A área da tecnologia
traz a convergência no cotidiano da sociedade. “A convergência diz respeito a
uma mudança tecnológica profunda que, por exemplo, na economia deverá
transformar a relação do modelo de negócios no campo da comunicação” (BARBOSA
FILHO e CASTRO, 2008, p.32). Tratam-se, ainda, de convergência de conteúdos, de
criação de novos formatos para diferentes plataformas tecnológicas, novas
formas de pensar a comunicação.
A segunda parte da referência que nos
propomos a resenhar discute o cenário digital, enfocando uma cartografia
audiovisual da televisão e cinema brasileiros. Os autores esclarecem que este
trabalho foi iniciado em dezembro de 2005 com a proposta de estudar a produção
brasileira nas capitais do país. O trabalho reuniu, em sua maioria,
pesquisadores especializados em economia política da comunicação e estudos
culturais críticos em cinco regiões do país e suas equipes de trabalho. Os
autores utilizaram ferramentas analíticas da economia política da comunicação,
por sua abordagem macro-estrutural sobre a mídia e a produção audiovisual, bem
como sobre a concentração dos meios de comunicação em um cenário midiático
capitalista. “Para além dela, no entanto, foram necessárias outras abordagens,
como as que dizem respeito à cultura, daí a utilização dos estudos culturais
críticos” (BARBOSA FILHO e CASTRO, 2008, p.108).
Os autores referenciam a legislação brasileira para
refletir sobre o termo audiovisual. Para eles, o termo na lei brasileira abarca
uma amplitude de produtos realizados para o cinema, rádio e TV. Trata-se de
“produto de fixação ou transmissão de imagem com ou sem som, que tenha a
finalidade de criar a impressão de movimento independentemente dos processos de
captação dos meios utilizados para veiculação, reprodução, transmissão ou
difusão do produto.
Na pesquisa realizada por Barbosa Filho e Castro,
que resultou na segunda parte da referência em tela, havia a necessidade da
delimitação do corpus, por isso fizeram um recorte à investigação da TV
aberta e por assinatura e, tangencialmente, do cinema nacional divulgado nos
diferentes canais de TV. “A pesquisa, assim como as demais reflexões presentes
neste livro, possui um caráter transdisciplinar e analisa a produção dos
produtos audiovisuais de entretenimento locais realizados no Brasil [...] e
divulgada nos principais jornais do país, seja na versão impressa ou on-line.
Uma abordagem importante também presente na obra é o
destaque na segunda parte (capítulo nove), com a aplicação da práxis de Kaplún,
como ferramenta para inclusão digital. Neste texto há uma discussão sobre a
produção de conteúdos e sobre o potencial educativo que o rádio oferece. Nesse
sentido, os autores também refletem sobre as contribuições de Paulo Freire,
Mario Kaplún e Juan Díaz Bordanave para os processos e práticas que
inter-relacionam a comunicação, a recepção e a educação. Ainda refletem sobre a
TV digital, construindo uma parceria desta ferramenta contemporânea com a EaD,
numa proposição, que segundo os autores, torna-se a perfeita inclusão social.
A trajetória de André Barbosa Filho, autor do livro
em tela, que oscila entre o rádio e a TV, trilhada nos meios de comunicação,
seja em seus estudos, seja como professor de Comunicação, é o primeiro anexo
que compõe o livro. Com uma entrevista, o autor esclarece, mais pontualmente,
sobre os processos comunicacionais e deixa uma mensagem às novas gerações que
se interessam pelo mundo da comunicação e sobre as mudanças na área. Na
continuidade da parte de anexos da obra, Cossete Castro, co-autora da obra,
traz também no gênero entrevista, um olhar sobre a mídia na América Latina.
Assim, faz um panorama inédito sobre as indústrias culturais e as indústrias de
conteúdos na América Latina, refletindo sobre suas pesquisas inerentes às
perspectivas e os desafios da sociedade da informação diante da convergência
tecnológica.